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A unanimidade inteligente

[Crônica do dia 28 de julho de 1998]

Nelson Rodrigues, do alto de sua inteligência e do seu sarcasmo, dizia que toda unanimidade é burra. e eu, debaixo das minhas limitações, sempre concordei com o grande escritor brasileiro.

Sem chegar a colocar no mesmo terreno baldio a cabra, a grã fina, a aluna de psicologia da PUC e o padre de passeata, para saber qual era mais fã de Che Guevara, sempre tive um respeito enorme por ele, porque é, e sempre será, um dos maiores escritores e um dos homens mais inteligentes deste país.

Se pararmos para pensar, a frase é lapidar: “toda unanimidade é burra”. O que pode ser mais cirúrgico, mais exato, do que a sua colocação? nada! E, no entanto, não é bem assim.

A vida não é branca nem preta, a vida corre perto do cinza. e, o que é terrível, com um aguçadíssimo senso de humor. Pois a vida, que adora contrariar tudo e todos, decidiu provar que Nelson Rodrigues estava certo, mas que sua regra, aliás, como todas as regras, comporta exceções.

Para isso ela se valeu de São Paulo e do estado lastimável de suas ruas. Toda a população da cidade, incluída boa parte dos poucos admiradores do prefeito, concordava que o estado das ruas paulistanas era trágico, representando forte desgaste político para o alcaide e para seu protetor, já em plena campanha para o Morumbi.

Impávido, o prefeito não concordava. Do alto do seu poder de prefeito da maior cidade da américa do sul, achava o nosso asfalto um colosso. Foi aí que a vida deu o bote e até o prefeito mudou de opinião.

Agora, São Paulo tem uma unanimidade inteligente: todos concordam que o asfalto da cidade precisa comer muito feijão para ao menos ser chamado de asfalto.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.