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Um crime bárbaro

[Crônica do dia 23 de abril de 1997]

Não há dúvida nenhuma, matar um beija-flor é uma barbaridade. um ato sem sentido que não leva a nada, exceto privar a natureza duma das suas joias mais bonitas e de um dos animais mais violentos que ela criou.

Para quem não sabe, o beija-flor, esta maravilha que voa refletindo todas as cores do arco-íris, é um monstrozinho extremamente agressivo, o que só confirma que a regra do lobo em pele de cordeiro, na natureza, é muito mais comum do que a gente pensa.

Mesmo assim, matar o animalzinho não tem cabimento, é uma maldade gratuita que precisa ser coibida, mas, com certeza, não com alguns anos de prisão.

Pelo menos não no Brasil, onde a vida humana não vale nada e quem mata gente é quase que recompensado, com mais de quinze minutos de glória e com a certeza de não ser preso.

Agora mesmo, quantos assassinos, matadores frios que não hesitam em tirara a vida de um ser humano, estão soltos, andando de um lado para o outro, prontos para matar de novo, e de novo, quantas vezes eles tiverem vontade?

Uma simples olhada num jornal, em qualquer jornal, mostra as loucuras que vem abalando a imagem da polícia, de norte a sul do país, por conta de crimes de morte e de torturas sem cabimento, sem que, até pouco tempo atrás, acontecesse alguma coisa com os criminosos.

Chacinas de todos os tipos e por razões as mais fúteis ceifam a vida de centenas de jovens por ano e ninguém faz nada para impedi-las.

Cada esquina da cidade é uma armadilha mortal, com meninos armados até os dentes matando por menos do que um relógio, certos de que não lhes acontecerá nada porque nossa lei é um amontoado de demagogias.

E, para compensar o absoluto descaso pela vida humana, para fingir que temos algo de civilizado, colocamos na cadeia um coitado que mata um beija-flor.

É sem sentido… tão sem sentido quanto dar uma estilingada na avezinha…

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.