Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Bom é comer pitanga

Em época de polarização, bom é comer pitanga no pé. Pitanga é uma frutinha fora de moda, nativa do Brasil, onde dá bem na mata e perto do mar, com a tranquilidade de quem conhece seu espaço e sabe administrar seu uso. A fruta da pitanga é pequena, vermelha e seu azedo a faz única.

Pitanga já foi fruta comum, dessas de dar em todos os pomares e nos grandes quintais das casas antigas. Com o tempo, foi perdendo espaço, como aconteceu com várias frutas tipicamente brasileiras. Você sabe onde tem araçá? Cajamanga? Graviola? Pois é, também passaram, perderam espaço para caqui, manga, abacate, mexerica poncã e outra que vieram de fora e se deram bem por aqui.

É bom comer pitanga em qualquer situação, mas especialmente quando o clima está quente, não porque as mudanças climáticas esquentaram a terra, mas porque as pessoas ainda estão aceleradas por causa das eleições.

As pitangas são disciplinadas. Sua hora de entrar em cena é agora, então é agora que elas chegam. Nem antes, nem depois, como aconteceu com as jabuticabas e as amoras, que este ano não respeitaram o ritmo definido pela tradição e chegaram antes do tempo, criando um buraco entre elas e as pitangas.

As pitangas são vermelhas, mas não apoiam, nem dão suporte aos partidos de esquerda que roubaram sua cor. Seu vermelho é anterior a esses movimentos. Desde sempre elas dividem as matas com as ibirapitangas, o pau-brasil que deu nome ao país.

Para elas, como para as jabuticabas, tanto faz quem ganhou e quem perdeu. Elas sabem que, de verdade, quem perdeu foi o Brasil. Por isso se entregam maduras para quem sabe onde estão plantadas poder comê-las. Com certeza é melhor aguentar o tranco comendo pitanga.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.