A nova cara dos ônibus
[Crônica do dia 17 de junho de 1998]
De repente, os ônibus de São Paulo decidiram mudar de cara. Especialmente os sisudos elétricos, antes de cores feias, sempre com um amarelo desbotado, misturado com um vermelho pior ainda, ou um azul que já não é, decidiram alegrar a cidade, quebrando a monotonia do cinza e da sujeira com as cores alegres de uma primavera fora de hora.
A primeira vez que os vi, foram dois de uma vez, fazendo a curva na rua Santo Antonio, bem em frente da Câmara Municipal, onde eu tinha ido gravar um programa de televisão, sobre as origens da cidade e dos monumentos paulistanos.
Ao vê-los alegres, azuis, vivos, com cenários típicos pintados em suas laterais, confesso que uma onda de otimismo passou por mim. De repente, achei que São Paulo tem jeito e que tudo é possível, bastando um pouco de boa vontade para se ser feliz, ou pelo menos para se buscar a felicidade.
Em suas cores alegres, representando cenários paulistanos – a praça da Sé, o Pátio do Colégio, cenas de ruas e monumentos – os ônibus pintados de novo, são uma festa para os olhos e uma esperança de uma cidade melhor.
Uma pequena fagulha, uma velinha de aniversário, mas são, são uma esperança de uma vida melhor.
Vida melhor para nós que moramos em São Paulo, para nós que respiramos s
São Paulo, que odiamos e amamos a cidade, com o seu lado bom e o seu lado ruim, com o belo e o feio que fazem da vida aqui uma aventura fantástica, que se completa em cada passo e em cada esquina, ao longo de sua área enorme, de mais de 1000 km quadrados.
Os ônibus de São Paulo não são os ônibus de Londres, nem têm o conforto dos ônibus das grandes cidades europeias.
São os mesmos ônibus que precisam de um banquinho para se subir nele e depois, com um pulo, alcançar o primeiro degrau.
Na média são antiquados perto do que vai pelo mundo, mas com suas cores novas, mudaram de cara e mudaram a cara da cidade.
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