A espatódea da rua Atlântica
[Crônica do dia 15 de janeiro de 2003]
Quando eu era menino, uma vez, na fazenda, durante uma visita ilustre, um meu tio disse para o convidado francês, fascinado com a árvore florida, que o nome da espatódea era “mijá-mijá”.
Mija-mija era o nome que nós dávamos à árvore por causa de suas flores, que antes de abrirem guardam água dentro e por isso, quando apertadas, esguicham a água na cara de quem está na frente.
Era comum nas férias de verão fazermos guerra de mija-mija nas encostas do jardim atrás da piscina. Uma pirambeira boa para criança brincar, com degraus e barrancos íngremes, onde era fácil rolar, para escapar do jato jogado contra você.
O mija-mija atrás da piscina, até hoje, é uma árvore imensa, alta com galhos amplos, que domina o morro onde está plantada, mesmo estando no meio da encosta.
Eu só descobri que o nome certo dele era espatódea muitos anos depois, andando pelo pedaço com minha tia-avó Lia, que era a responsável pelo jardim da fazenda, e que fez dele um dos jardins mais bonitos que eu conheço no Brasil.
Com certeza é por causa desta árvore que eu acho as espatódias em geral árvores lindas, mesmo elas ainda não estando grandes. E na época de sua florada, nos meses de verão, elas ficam maravilhosas com seus cachos de flores vermelhas claras contrastando com o verde denso de suas folhas.
Foi por causa da riqueza desta florada que eu descobri que a rua Atlântica tem uma espatódea deslumbrante, grande, com os galhos altos e amplos ocupando um enorme pedaço da rua. É uma árvore quase tão impressionante quanto o mija-mija da minha infância.
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