A cor do paraíso
[Crônica do dia 5 de março de 1999]
Quem passou pela Via Anchieta na quarta-feira de cinzas durante o dia, no trecho que vai do alto da serra até a represa, tem que ter ficado maravilhado.
Não havia como não maravilhar-se diante do espetáculo deslumbrante das cores margeando a estrada, dos dois lados, por quilômetros a fio, numa sucessão impressionante de árvores fantasiadas com suas roupas mais belas, mostrando aos motoristas que o carnaval na mata fora alegre e bonito como um desfile de escola de samba.
Árvore depois de árvore, as quaresmeiras e os manacás da serra expunham todo o luxo de suas flores, numa sequência de sonho, numa fila de arco-íris coloridos de um jeito mais bonito do que se feito através de efeito especial de cinema rico.
A explosão aconteceu aos poucos, logo depois de acabada a subida da serra. Em vez de pegar a Imigrantes, como a Anchieta estava vazia e no planalto os caminhões não atrapalham como na serra, toquei por ela, seguindo em frente, na direção do ABC.
Menos de dois quilômetros depois da saída para a Imigrantes as cores começaram a aparecer, primeiro numa árvore isolada aqui, numa outra pouco mais a frente, e noutra, e noutra, até se transformar num tapete lilás, branco e roxo, cobrindo a mata com uma substância como que irreal, uma neblina mágica, saída de uma lâmpada encantada que serviu de casa para um gênio que roubou de Renoir o seu talento para a composição das cores dentro do espaço.
Ou quem sabe fosse – numa outra imagem das Mil e Umas Noites – um tapete mágico feito com todas as cores que há nos sonhos, arrancando da floresta úmida os segredos perdidos que até hoje escondem o caminho do Peabirú.
Magia, ilusão que o vento leva… não! As flores estavam ali. Recobrindo as árvores, enfeitando as árvores com o roxo deslumbrante de seu luto pela quaresma.
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