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A cor do paraíso

[Crônica do dia 5 de março de 1999]

Quem passou pela Via Anchieta na quarta-feira de cinzas durante o dia, no trecho que vai do alto da serra até a represa, tem que ter ficado maravilhado.

Não havia como não maravilhar-se diante do espetáculo deslumbrante das cores margeando a estrada, dos dois lados, por quilômetros a fio, numa sucessão impressionante de árvores fantasiadas com suas roupas mais belas, mostrando aos motoristas que o carnaval na mata fora alegre e bonito como um desfile de escola de samba.

Árvore depois de árvore, as quaresmeiras e os manacás da serra expunham todo o luxo de suas flores, numa sequência de sonho, numa fila de arco-íris coloridos de um jeito mais bonito do que se feito através de efeito especial de cinema rico.

A explosão aconteceu aos poucos, logo depois de acabada a subida da serra. Em vez de pegar a Imigrantes, como a Anchieta estava vazia e no planalto os caminhões não atrapalham como na serra, toquei por ela, seguindo em frente, na direção do ABC.

Menos de dois quilômetros depois da saída para a Imigrantes as cores começaram a aparecer, primeiro numa árvore isolada aqui, numa outra pouco mais a frente, e noutra, e noutra, até se transformar num tapete lilás, branco e roxo, cobrindo a mata com uma substância como que irreal, uma neblina mágica, saída de uma lâmpada encantada que serviu de casa para um gênio que roubou de Renoir o seu talento para a composição das cores dentro do espaço.

Ou quem sabe fosse – numa outra imagem das Mil e Umas Noites – um tapete mágico feito com todas as cores que há nos sonhos, arrancando da floresta úmida os segredos perdidos que até hoje escondem o caminho do Peabirú.

Magia, ilusão que o vento leva… não! As flores estavam ali. Recobrindo as árvores, enfeitando as árvores com o roxo deslumbrante de seu luto pela quaresma.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.