As paineiras da ponte
[Crônica do dia 06 de abril de 2010]
Todos os anos elas dão o ar da graça, florindo e enfeitando o caminho de quem parte para o sul e para o oeste, deixando São Paulo para trás.
São dois renques com poucas árvores, mas suficientes para criar beleza numa zona que teria tudo para ser deslumbrante, mas foi apagada pelo progresso da metrópole.
Dois renques de cada lado da Ponte da Cidade Universitária, meia dúzia de árvores enfileiradas à direita e a esquerda, as paineiras da ponte têm um compromisso maior e mais antigo, que remonta aos tempos mitológicos, quando São Paulo era habitada por índios, bandeirantes e padres.
Gente que brigava pela vida, que arrancava sonhos da mata e ouro dos rios.
Homens e mulheres na labuta do dia a dia, instalados ao longo de três rios, em volta de uma pequena vila e meia dúzia de aldeamentos, em fazendas de todos os tamanhos, todas pobres, como o planalto.
As paineiras têm o compromisso de preservar essa história, e de passar aos que demandam o Sul e o Guairá a velha esperança que dava o rumo às expedições que se embrenhavam no sertão por anos a fio.
O Butantã tem tudo a ver com essa história. É lá que está a Casa do Bandeirante, sede de antiga fazenda colonial, simples e singela em suas linhas retas e sem enfeites, como a vida daquelas pessoas.
Todos os anos eu espero a florada das paineiras da Ponte da Cidade Universitária como um marco, dividindo o ano, dando cara ao outono e avisando que em seguida vem o inverno.
Este ano elas floriram mais cedo. Culpa das chuvas torrenciais que inundaram o verão. Ou será que foi o canto de um curió extraviado?
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.