As paineiras não querem ir embora
As paineiras não querem ir embora. Não querem abrir espaço para outras floradas, como se o mundo fosse delas e o direito divino de florir também.
Pode mais quem chora menos e, com seus espinhos pontudos, as paineiras se julgam suficientemente armadas para enfrentar as guerras e guerrilhas que moverem contra elas.
Num certo sentido, elas estão certas, maio é mês das paineiras, Ou era. Até abril brilham as quaresmeiras, depois entram as paineiras, ou seja, agora é o tempo delas, então elas têm razão em não quererem ir embora.
O problema é que o que era não é mais. As mudanças climáticas entraram em cena e mudaram o quadro, deram a volta no pôr do sol e interferiram no ritmo dos tsunamis.
O resultado é que ninguém sabe muito bem quando é meio-dia e onde é meia-noite. Tudo pode ser de um outro jeito como se a vida andasse de lado, fingindo que vai pra frente.
E o duro é isso. De verdade, a vida segue em frente, na velocidade constante da rotação da terra e na navegação em volta do sol. Tem quem diga que o dia hoje em dia só tem 18 horas. Vai saber… Tem quem acredite que a terra é plana… Então só sei que não sei.
As paineiras não querem abrir espaço para os ipês, mas não tem jeito. Eles estão chegando e, haja o que houver, vão cair de pau e se instalar nos espaços ocupados, que não são necessariamente os mesmos das paineiras.
Nessa briga de cachorro grande, quem tem juízo fica de fora, até porque é muito mais bonito assistir as árvores brigando e ver suas cores disputando espaços do que se meter na confusão e, ainda por cima, sair com o corpo furado peloso espinhos das paineiras…
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