Música irlandesa
[Crônica de 26 de agosto de 2009]
Eu gosto de música em geral. E, dentro delas, gosto particularmente de música irlandesa. Cada vez que ouço uma canção popular, normalmente, canção de guerra ou marcha, confesso que entro no ritmo e fico imaginando, de brincadeira, se não tenho sangue irlandês.
É verdade que entro no mesmo ritmo ouvindo Beethoven, Mozart, Tchaicovski, Mahler, e outros grandes compositores clássicos, da mesma forma que viajo com Beatles, Dylan, Moody Blues, Roling Stones e nem por isso sou alemão, austríaco, russo ou inglês.
Da mesma forma que danço e canto junto com Chico e Caetano, e sou brasileiro como eles.
Mas algumas marchas irlandesas me levantam, me fazem viajar, imaginando a partida para o combate, numa manhã fria e nevoenta de meio de outono.
O bando aguerrido, com espadas enormes e longas lanças, atacando as tropas britânicas, mais bem armadas e bem treinadas, indiferente ao risco da morte e a quase certeza da derrota.
Vejo os campos verdes descendo em colinas mais ou menos suaves, os rochedos na costa e as bandeiras de guerra.
E me pergunto se de alguma forma mágica não tenho sangue irlandês. Se Bartira, antepassada comum de quase todas as antigas famílias paulistas, não tinha sangue irlandês misturado ao bom sangue tupi, de guerreiros tão corajosos e desassombrados quanto os bravos soldados do Norte.
Será que num encontro mítico, em algum lugar depois do arco-íris, um irlandês e uma índia deram origem à minha paixão pela música cadenciada, no ritmo das danças de guerra, na partida das bandeiras?
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