O Ide mudou de plano

Conheço pouca gente que foi a Marabá na primeira metade da década de 1970. Até porque tinha pouca coisa para se fazer em Marabá, além de participar da guerrilha do Araguaia e da abertura da Transamazônica.

O Ide foi. Aliás fomos, o Cláudio Pimentel, o Aloísio Medeiros, o Ide Salles Abreu e eu. Nosso destino, o Campi Avançado da USP; nosso objetivo, participar do Projeto Rondon.

Foi das experiências mais fantásticas de nossas vidas. E eu falo pelos quatro, porque, quando fomos, já éramos amigos e somos amigos até hoje, ou melhor, três seguem amigos na terra porque o Ide mudou de plano.

Agora ele mergulha no Tocantis que tem no céu e que corre entre tracajás, piuns e muriçocas, dando de beber aos dinossauros cósmicos que buscam suas águas como nós fazíamos, 50 anos atrás, descobrindo um universo inteiramente novo, no qual o livro didático do Ministério da Educação recomendava aulas de computação para alunos que nunca tinham visto um computador.

Foi um período mágico, um tempo que nunca passou e que, até os dias atuais, sempre serviu de gancho para nossas conversas e de esteio para nossa amizade. Amizade de mais de 50 anos, iniciada nas Arcadas, onde os 4 estudaram direito. Três se tornaram advogados e o Ide foi ser juiz, seguindo os passos do pai, na companhia do irmão, Dr. Renato, ilustre desembargador, o nosso Tô, nos encontros dos amigos.

Tem gente que passa por este mundo como uma sombra, mal deixa um sopro de ar depois que sai e fecha a porta. O Ide, não. O Ide veio para deixar sua marca no peito de todos que gostavam dele. E eram muitos porque ele era uma pessoa especial, com um coração gigante, uma generosidade maior ainda e uma enorme compaixão. Ide, que a eternidade lhe seja leve e que, no paraíso, você encontre o que ficou faltando na terra.