Improbabilidade
[Crônica de 9 de outubro de 2009]
Em princípio, a Rua São Bento não é o lugar ideal para encontros inesperados.
Sem magia, feia e normalmente suja, a antiga rua que liga os largos de São Bento e São Francisco está longe de inspirar os anjos a gastarem seus milagres.
Pelo contrário. Rua de caráter eminentemente comercial, tem lojas dos dois lados de seu calçadão deteriorado, invariavelmente com poças d’água estagnada e aquela espécie de lama resultante da soma de todos os lixos, tão de jeito para nos fazer escorregar.
Eu seguia por ela em direção ao Largo de São Francisco. Queria comprar meias numa loja lá perto e voltar o mais rapidamente possível para o escritório.
Tinha estacionado atrás da Igreja do Rosário, no fundo do Largo do Paissandu. Como a caminhada era relativamente longa, eu andava rápido, sem prestar atenção em volta, o que não deixa de ser um perigo, já que os trombadinhas escolhem justamente os que andam distraídos.
Não pensava em nada mais profundo do que o nome completo da igreja do Rosário: Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Irmandade do dos Homens Pretos.
Nome com caráter. Com força. Com dignidade. Nome de uma igreja delicada, escondida num largo malcuidado, onde se sobressai e se impõe, como a força de seu nome.
Foi aí que senti me pegarem pelo braço e falarem meu nome. No primeiro momento não reconheci quem era. Precisou que ele me dissesse: “sou o Junior, que trabalhou com você no Pacaembu”. Demorou um pouco para me lembrar dele. Mas fiquei contente com o encontro. Ele tem sua corretora, toca seu negócio, vai bem e vive bem. O resto é bobagem.
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