Caos e insubordinação
[Crônica de 15 de abril de 2008]
O Brasil atravessa uma época negra em relação aos princípios básicos da vida em sociedade. Começando pelo primeiro e fundamental respeito ao próximo, boa parte da população não respeita mais nada, seja a hierarquia empresarial, seja o trânsito, seja um a mera fila de açougue.
Eu entro onde quero, do jeito que quero, na hora que quero. Até em fila para estacionar o carro em festa de formatura de faculdade aparece o esperto que chega direto, imbica, dá seta, e tenta entrar.
Quando eu era menino para ir ao Guarujá tinha que se atravessar o canal pela balsa de Santos. As filas atingiam quilômetros e todo mundo ficava horas parado, com infinita paciência, sem tentar passar na frente dos outros. Nas poucas vezes em que isso acontecia, a polícia quando o furão chegava lá na frente, o brecava e fazia que fosse para o fim da fila, obrigado a ficar horas e horas esperando para aprender que não se deve ser esperto.
Hoje as coisas mudaram. O exemplo vem de cima, de boa parte dos nossos gloriosos políticos que mostram para todo mundo que o importante é levar vantagem, nem que seja tungando o engraxate do Congresso ou o dono do restaurante da Câmara dos Deputados.
A regra parece que é: estamos nesta vida para aproveitar o que os trouxas deixam para a gente. O problema é que os trouxas somos nós e não tem graça nenhuma pagar a festa deles.
Mas, mais séria é a bagunça generalizada que a falta de respeito vinda de cima está causando. É andar pelas ruas congestionadas de São Paulo para se ter um quadro claro. Agora quem manda são os carrinhos dos catadores de papel e as bicicletas. Nada contra um ou outro, mas tem que ter regra. E o mais favorecido não tem que ser eles.
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