O fim do inverno
[Crônica de 8 de setembro de 2005]
O inverno só acaba, no papel, na segunda quinzena de setembro. Só que, na prática, as coisas acontecem de outro jeito, em outro ritmo, que, de acordo com que nós vamos vendo na natureza, já está acabando pragmaticamente com este inverno.
O sinal mais bonito é a chegada do verde nas copas das árvores. E desde o final de agosto, uma olhada mais atenta às copas de boa parte das tipuanas mostra que elas já estão vestidas com um verde novo, intenso, vivo e forte, que contrasta com o verde de outras árvores mais atrasadas, que ainda não mudaram de roupa para saudar e receber a primavera.
O verde das folhas novas é como a esperança que voa nas asas dos pássaros, alguns, tomando providências importantes muito antes do tempo, como os sabiás que por alguma razão que eu não sei qual é, este ano, desandaram a cantar bem antes do que seria razoável, ou pelo menos, da época em que começavam nos últimos anos.
Como o canto dos sabiás de madrugada é uma chamada para as fêmeas, e para a primavera, pode ser que sejam eles os responsáveis pela mudança das folhas um pouco antes da hora. Se for, desde já eles estão perdoados porque apressando ciclo do ano, enganaram o frio que mata nas noites de inverno, fazendo com ele se fosse mais cedo, permitindo que milhares de pessoas que não têm com o que contar para se proteger das noites geladas, pudessem dormir tranquilas, como se já fosse primavera.
Estranho? Não. São Paulo. São Paulo que nunca é igual e que sempre surpreende, seja no tempo, seja no trânsito, seja no gesto inesperado da cidade se mostrando amiga… e quente.
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