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Escambo

Troca-se um jegue com pouco uso por um fusca 62. Observação: o jegue é meu, e eu quero trocá-lo pelo fusca.

Não adianta oferecer fusca masseado com durepoxi porque eu não aceito. Meu jegue é quase zero, com as quatro patas em ordem, comendo e bebendo bem, capaz de realizar tarefas por onde nem jipe passa.

Quem quiser levar meu jegue tem que dar na troca um fusca 62 ou mais novo, em perfeita ordem, com motor, quatro pneus seminovos e funcionando.

Não adianta querer me enganar. Meu cunhado é mecânico especializado em fusca e é ele quem vai examinar os fuscas que me forem oferecidos na hora de trocar pelo jegue.

As vantagens do jegue em cima do fusca são evidentes: capim custa mais barato do que gasolina e nasce em qualquer canto, o que quer dizer que alimentar o jegue é mais barato do que alimentar o fusca.

Jegues são menos roubados do que fusca, o que permite deixá-los soltos, presos por uma corda, num terreno baldio perto de casa.

Os fuscas precisam de pneus, bateria e óleos diversos, que custam mais caro do que as necessidades do jegue, que são, além do capim já citado, ferraduras e água.

Proporcionalmente os jegues transportam mais carga do que um fusca e, se são mais lentos nas estradas, na cidade, em função do tamanho, levam a enorme vantagem de poderem driblar o trânsito, passando como as motos, entre os carros parados.

Mas, se um jegue é uma maravilha, então por que eu quero me desfazer do meu brilhante, no auge da forma e na flor da idade?

A resposta é simples: um homem deve progredir na vida e um jegue também.

Chegou o momento de provar que eu dei certo na capital paulistana e chegou o momento de o brilhante também tentar voos mais altos, quem sabe se candidatando a vereador ou pelo menos a presidente de associação de bairro. É por isso que damos preferência, na hora da troca, a partidos políticos.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.