Zoológico a céu aberto
Diz a lenda que os animais selvagens devem viver na selva, quer dizer, nas matas, nos campos, nos rios, enfim, na natureza onde Deus os colocou para serem felizes, se reproduzirem e preservarem as espécies.
Grosso modo, isso até acontece, mas a regra não está solidamente inserida na alma ou na memória de determinados espécimes que decidiram mudar de endereço e seguiram os passos da grande migração do campo para a cidade, que acometeu São Paulo nas décadas de 1960 e 1970.
Nesses 20 anos, milhões de moradores do campo se mudaram para as cidades, primeiro, pela mudança do cenário econômico e depois, pela mudança da legislação trabalhista, que acabou com os “colonos” e criou a figura do “boia-fria”, expulsando os trabalhadores das fazendas para as periferias das cidades.
Não cabe discutir se foi bom ou se foi ruim, foi e acabou. Mas se nem todos os humanos se deram bem, a regra parece que não vale para os animais que se miraram nos exemplos dessas pessoas e decidiram se mudar para a cidade.
Boa parte dos que escolheram São Paulo, Capital, se deram bem. Especialmente os que escolheram como morada os parques e, em especial, a Cidade Universitária da USP, na antiga fazenda do Butantã.
São animais de todas as naturezas, mamíferos, répteis e aves, que se aboletaram no pedaço e agora já estão lá faz tempo, com família consolidada e comprovante de endereço com firma reconhecida.
É verdade, nem todas as espécies se mudaram, mas temos capivaras, macacos, cobras e lagartos, sabiás, tucanos, gaviões, bem-te-vis e mais uma série de animais com e sem penas, como os quero-queros que gritam pelos gramados da USP como se fossem salvar a mãe da forca.
É a vida em movimento. Nem sempre o modelo original é o melhor.
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