Santos a mesa
[Crônica antiga de 5 de dezembro de 2013]
Uma das grandes coisas de viajar é descobrir que o mundo não gira no mesmo ritmo do Brasil, que há lugares onde você andar na rua de noite é normal e não assusta. Você vai a locais próximos sem maiores problemas. O grande alvo é o restaurante da rua, mesmo sem ter certeza se ele fica mais perto ou mais longe. O resultado é você cruzar com gente sem ter medo que aconteça um assalto.
40 anos atrás eu andava pelas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro sem medo nenhum. Faz muito tempo que isso mudou. Eu tenho medo e não é só de noite. Dependendo de quem vem pela calçada, dá medo a qualquer hora do dia.
Mas, independentemente do medo, você tem que tocar em frente. Então, não adianta reclamar, nem esperar pela polícia, o jeito é ir em frente.
Por conta de em Lisboa poder andar a pé sem maiores preocupações, acabei descobrindo alguns restaurantes interessantes na região do hotel em que ficamos.
Num deles comi um frango a cabidela maravilhoso. Para quem não sabe, frango a cabidela é a nossa galinha ao molho pardo, prato delicioso, mas em desuso, porque não é fácil encontrar frango vivo para tirar o sangue nas grandes cidades. E, se fosse fácil, haveria outro problema: a maioria das cozinheiras atuais não tem ideia de como se faz uma galinha ao molho pardo.
Mas, mais curioso foi um restaurante chamado “Santos à Mesa”. Os únicos clientes na noite fria de segunda feira éramos nós. Então a proprietária e o cozinheiro capricharam. A resposta para nosso pedido de uma comidinha leve foram duas imensas travessas de bacalhau, um assado, o outro cozido. E os dois estavam muito bons.
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