Uma atitude incompreensível
[Crônica de 7 de julho de 1999]
No último fim de semana, quem sabe como compensação pela profecia de Nostradamus ter dado errada e o mundo não ter acabado, o Brasil descobriu que o caos pode ser muito mais caótico do que a se pensa, inclusive nas faculdades especializadas.
A mudança de sistema de fazer ligações de longa distância simplesmente levou o país à loucura, engordando por conta disso a conta de centenas de analistas e especialistas de todas as tendências que não sabem como agradecer à Embratel o presente recebido.
Só não foi pior porque não dava para ser pior. A imagem do fim do mundo surgiu clara, na frente de milhares de pessoas que não conseguiam falar, mesmo tentando o dia inteiro, por dias seguidos, incluída a noite de domingo, que, de acordo com o livro do Senhor, deveria servir para o descanso.
Não serviu, nem aliviou. Os telefones, como que seguindo os passos concatenados de uma conspiração monstruosa, se recusavam a completar a ligação, dando espaço para uma vozinha muito simpática, informando que a ligação não fora completada e que era caso de entrar em contato com a sua operadora de longa distância.
Nem tentar enganar o sistema, dependendo para onde se queria ligar, adiantou. O sistema não se deixava enganar e impassível, como convém a um sistema privatizado, não discutia, apenas não completava a ligação pretendida.
Algumas regiões ainda foram alcançadas pelos telefones celulares, que ficando fora da nova regra, deveriam ligar para o Brasil inteiro.
Só que, na prática, não foi bem assim. Por exemplo, eu não sei o que Uberaba fez para a Embratel, mas para lá não tinha como ligar e, quando alguém conseguia ligar de lá para fora, a ligação caia logo em seguida.
Muito provavelmente existe na base de tanta eficiência alguma razão de vulto que a maioria da população desconhece. Ódio, ciúme, inveja, traição, caso passional… ninguém sabe.
De concreto, só os telefones que não funcionavam e o medo da vingança se espalhar, emudecendo todas as linhas.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.