E agora João?

[Crônica de 12 de abril de 2010]

Imagine que você está num barco a cruzando o estreito de Drake e que no meio da travessia o impossível acontece: os dois motores quebram e você fica à deriva, num dos piores mares do mundo.

Ficar sem motor em qualquer mar é sempre ruim. Não acrescenta nada a biografia da pessoa, exceto a certeza de que ter medo faz bem.

Quando se está a poucas milhas da costa paulista, num mês de verão e tendo rádio a bordo, a coisa, em princípio, não é tão grave, ou pode não ser, dependendo do tamanho do barco.

Mas quando você está no meio do estreito de Drake, rumo a Antártica, com certeza é mais complicado. Até quando a meteorologia diz que o tempo ficará bom nos próximos dias, ficar sem um motor num lugar que quanto mais rápido se sair melhor, atrapalha a digestão. Imagine ficar sem os dois!

Não é agradável. Nem pode ser, exceto se você for um louco que quer desafiar a morte com a sem cerimônia dos caubóis sacando suas armas num final de tarde, na rua principal do vilarejo de garimpeiros.

São situações como essa que fazem a série Mar Sem Fim ser diferente das outras séries do gênero. Na série do João Lara Mesquita o barco quebra, e bem no meio da travessia do Drake.

Enquanto na imensa maioria das séries os barcos não quebram, os cinegrafistas não escorregam, nada dá errado, nem acontecem outras coisas fora do contexto, na série do João as imagens vão ao ar mostrando o dia a dia da tripulação, sem retoques, com as dificuldades de uma viagem a Antártica feita num Troller de alumínio, da forma mais profissional possível, mas sujeita ao inesperado e ao fora de controle porque no mundo real, eles existem.
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