As quaresmas da Imigrantes
Viajar pela Rodovia dos Imigrantes nesta época do ano tem dois lados absolutamente contrários, um muito ruim e outro muito bom.
Você pode cair na armadilha de achar que na quinta-feira é melhor e depois descobrir que vai levar mais de três horas para chegar no Guarujá, o que é mais ou menos o tempo que você leva se viajar na sexta-feira.
Durante muitos anos eu desci o pau na concessionária que administra a rodovia, ou melhor, o sistema, e que sempre meio que deixou a desejar, seja na qualidade do serviço ou na manutenção das estradas sob seus cuidados.
Não que tenha melhorado muito… não melhorou, mas, como se deve tentar ser honesto, é preciso dizer que a culpa não é só da concessionária. Tem variáveis que ela não controla.
O trânsito na saída de São Paulo pode ficar apavorante. O seu aplicativo de trânsito pode te mandar para quebradas inacreditáveis, o tempo pode complicar e uma tempestade cair na pista. Pode ter neblina na serra e pode, acima de tudo, ter maus motoristas. Contra isso não há nada que a concessionária possa fazer. E a soma de todos os fatores pode fazer sua viagem ser uma maratona rumo ao inferno, que tem a vantagem de servir como indulgência e reduzir seu tempo de purgatório.
Mas tem o outro lado. O lado bom e bonito. É só você viajar num domingo de manhã e você tem o privilégio de ver a serra enfeitada por milhares de quaresmeiras floridas, no meio da mata e nas laterais da estrada.
Dizem que a quaresma deveria ser uma época triste, de reflexão e penitência pela morte do Cristo. Esqueceram de contar isso para as quaresmeiras ou, se contaram, elas fingem que não ouvem. A beleza e a alegria de suas flores são contraponto para o martírio da longa viagem.
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