No princípio e depois do princípio
[Crônica de 12 de janeiro de 2001]
No princípio, São Paulo era campo e colinas. A mata estava longe e as várzeas não serviam para nada, exceto inundarem, todos os verões, ano após ano. Do alto da colina do Pátio do Colégio, do alto da península do Mosteiro de São Bento, dos altos de São Francisco, a cidade observava, a salvo, o movimento das cheias que se estendiam pelas várzeas, inundando grandes áreas de terra, então proibidas de serem habitadas.
É pouco conhecido, porque o nosso passado é pouco conhecido, mas durante praticamente todo o período colonial foi proibida a ocupação das várzeas como área urbana. Elas se limitavam a servir de campo para as plantações de arroz que então eram feitas ao longo dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros, nas fazendas e chácaras que rodeavam a vila pequena, que no final do século 19 ainda continuava acanhada, pouco se expandido para além do triângulo original, em direção da Liberdade, um pedacinho de Santa Cecília e Consolação, nos rumos de Pinheiros e Ibirapuera.
A explosão veio na virada do século 20, com a chegada dos imigrantes europeus, nem todos com destino às fazendas de café, já que vários deles eram artesãos e por isso tinham um mercado de trabalho muito maior na cidade que no campo.
Estes homens precisavam morar em locais baratos, comprar os imóveis que suas parcas economias pudessem pagar e ai se abriu uma enorme avenida para a especulação imobiliária e para uma nova utilização, bastante mais rentável, das várzeas que sempre inundaram.
Com o progresso da metrópole e sua industrialização, mais e mais gente começou a se instalar ao longo das margens, primeiro do Tamanduateí, depois do Tietê e do Pinheiros. E a sua urbanização deu no desastre de hoje.
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