Quando a vida pega duro
[Crônica de 29 de agosto de 1997]
Tem momentos na vida que parece que o céu vai cair sobre nossa cabeça. Todas as luzes se apagam, o sol fica escondido atrás das nuvens e, na noite que não é noite, as trevas se fazem densas, quase sólidas, fechando qualquer caminho de salvação.
Nada se encaixa. Cada ato ou cada gesto, estão sempre fora de foco, fora de lugar. Tudo dá errado. Como se o mundo não gostasse de nós, cada coisa que acontece parece ruim e pessoal.
Até Deus, de infinita misericórdia, parece que se esquece, ou enjoa, e nos deixa na chuva, sujeitos aos raios e trovões que o céu nos manda, e que caem à nossa volta.
Acordar é um sofrimento, sair da cama uma tortura. A certeza de que o dia será ruim é tão forte, que a única vontade é ficar deitados com o travesseiro na cabeça, tapando a vida com uma peneira. Mas, é preciso levantar-se. É preciso tocar em frente, encarar o mundo, mesmo sabendo que não teremos chance.
É preciso tocar em frente porque não há outra saída e a única coisa a se fazer é erguer o corpo e dá-lo ao mundo como a paga por todos os seus pecados.
São instantes que parecem se eternizar, compridos como as dores de Jó, só que sem a certeza do final feliz
Quem sabe o mais duro seja isto: a falta de certeza do final feliz. A vida não é um filme, ou uma novela, onde as desgraças se sucedem apenas para criar o clima que aumenta o impacto da redenção final, da vitória do bem sobre o mal, e da chegada dos tempos felizes.
A vida é simplesmente a vida e ela pega pesado também em quem não fez nada para merecer todas as desgraças que de repente caem sobre nossa cabeça. Nestas horas a solução é ter fé, é encontrar a fé, que nos possibilite mover nossas montanhas.
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