Lembranças da fazenda
Hoje eu acordei me lembrando do Paulo Micheletto, copeiro da fazenda de Louveira. O Paulo era uma figura humana única, especialmente para nós, crianças e adolescentes, que usávamos a fazenda de todos os jeitos, alguns infernizando a vida dele.
O Paulo era bom, no sentido exato do termo. Ele era bom e sua bondade se refletia nos seus olhos, até quando ele ficava bravo, porque o Paulo era severo e impunha sua condição de responsável pela grande sede da fazenda.
Junto com o Paulo tinha que vir a lembrança da Maria, sua mulher, e depois a Amélia e a Olímpia, todas cozinheiras maravilhosas, que faziam as receitas de tia Lia com uma maestria que poucos grandes chefes do mundo teriam condições de desafiar.
E vieram os três irmãos, a Calica, a Norma e o Lúcio, filhos do Zé Santinho, que trabalhavam na sede, enquanto o pai era o responsável pelas turmas que trabalhavam na fazenda.
E veio o Zezinho e o Nego, os cocheiros dos cavalos, e o Raé, o cocheiro das vacas. E veio o Elias, que dirigia uma caminhonete F100 que semanalmente trazia leite, frutas e verduras para nossas casas em São Paulo.
E veio a grande lembrança que até hoje marca minha infância. Eu acordava de madrugada e descia para a casa da mãe do Nego, no fim da colônia, para tomar o melhor café do mundo. Pão italiano, com manteiga e queijo mineiro, tudo feito pela D. Helena, acompanhado por um copo de leite tirado na hora, com café coado no coador de pano.
A maioria das pessoas não tem noção do que eu estou falando, mas quem cresceu em fazenda sabe. E sabe também que não é saudosismo. Tem certas coisas maravilhosas que não voltarão nunca…
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