As floradas menores
(Crônica de 6 de maio de 2003)
O ano se divide em floradas maiores e floradas menores. Não por serem mais ou menos belas, mais ou menos esplendorosas, mas por terem mais ou menos árvores para florirem ao mesmo tempo.
Entre as menores, temos as paineiras, que este ano saíram na frente, sem dar bola para o calendário, começando a florir um pouco antes da hora, quem sabe por São Paulo não ter mais seu chão plantado com capim gordura, desaparecido até dos grandes terrenos baldios que ainda circundam a cidade.
O capim gordura e as paineiras foram, até alguns anos, as cores do outono no Estado de São Paulo.
Depois, como apesar de deslumbrante durante a primavera, o capim gordura tinha pouca capacidade de engordar o boi, ele começou a ser trocado por outros capins, como o capim pangola, o napiê, pelas leguminosas e pelo braquiária e braquiarão, que formam desertos verdes tão tristes quanto os canaviais.
E a cidade, crescendo sempre, também foi engolindo as últimas áreas onde, por não servir mais para engordar boi, o capim gordura poderia sobreviver.
Sem seu parceiro de florada de outono, as paineiras podem ter perdido seu referencial e por isso, dependendo do ano, se mais quente ou mais frio, florescem antes da hora, abrindo o rosa deslumbrante de suas pétalas para alegrar as ruas e as praças e fazer cantar mais os sabiás que voam entre os galhos.
Mas além delas, outras árvores menos conhecidas insistem em se mostrar. Junto com um resto de quaresmeiras, que esqueceu da hora, os jacarandás paulistas, dão o primeiro bocejo, anunciando sua florada.
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