Para esquecer as coisas ruins
[Crônica de 11 de agosto de 2000]
São umas poucas semanas por ano. Mal e mal chega a u mês, mas durante este curto espaço de tempo, que coisa linda! Que maravilha ver a cidade tomada pelas flores das azaleias colorindo os jardins, dando vida ao cinza e escondendo parte do triste e do feio que são uma constante no nosso dia a dia.
É verdade que ao longo do ano inteiro temos floradas se sucedendo, uma mais bela do que a outra e por isso seria injustiça dizer que a florada das azaleias é a mais bonita de todas. Ela é linda, mas não sei se é a mais bonita. As quaresmeiras, no verão, são uma maravilha. As paineiras, em menor número, dão um show à parte e os jacarandás e os ipês têm também um espaço muito importante nessa festa.
Acontece que a florada das azaleias é mais perto dos olhos. Como as flores se mostram em arbustos mais ou menos baixos, ficam mais fáceis de serem vistas e, como também seu número é maior e as plantas se espalham por quase todas as praças e jardins, sua quantidade faz com que encham os olhos com mais intensidade do que as outras árvores que florescem em São Paulo.
São as diferenças da vida. Diferenças que fazem com que o mundo tenha uma infinidade de cores e de tons que lhe dão a graça e a possibilidade do sonho, que nos empurram para tentamos fazê-lo um pouco melhor.
E por ser duro é que as azaleias são tão importantes. Suas cores nos fazem esquecer os desmandos e as sandices que infernizam nossa vida e que são a marca registrada dessa categoria única e daninha, chamada a classe política.
Não é uma exclusividade nossa. No mundo inteiro eles estão aí, atrapalhando, por incompetência e bandalheira. E se a Holanda tem suas tulipas, a França seus jardins e Portugal suas primaveras, nós temos as azaleias que nos ajudam a ver a vida de um jeito mais bonito.
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