O primeiro começo
[Crônica de 21 de agosto de 2003]
Cada vez que eu vejo a serra do Mar, o paredão que ela é, a forma íngreme e dramática que com que se debruça sobre o litoral, espremido entre o mar e suas encostas a pique, fico imaginando como os primeiros portugueses se sentiram, ao chegarem e vê-la e encararem o desafio de ultrapassá-la.
Os primeiros desbravadores não sabiam do caminho do Peabiru. A estrada larga e gramada que saia de São Vicente, subia a serra de Paranapiacaba e se embrenhava pelo sertão, acompanhando grosso modo o traçado do rio Tietê, para cair Paraná à dentro, até chegar aonde hoje fica Assunção, capital do Paraguai.
A montanha deve ter-lhes aparecido terrível, quem sabe como mais uma provação de Deus, antes de abrir-lhes o Eldorado, a lagoa Dourada, Sabarabuçu e as Minas de Prata.
Encolhidos na ilha de São Vicente, com a Bertioga lhes protegendo dos ataques dos tupinambás de Cunhambebe, o outro lado da serra era o sonho sem limite atravessando as matas e os campos, até onde a imaginação alcançava.
O caminho do Peabiru surgiu como a certeza de ser possível cruzar a montanha e varar o sertão, nos vários palmos de largura da estrada atapetada com uma grama especial, tão boa quanto as melhores da Europa.
Subir a serra pela primeira vez deve ter sido emocionante e o coração mais duro deve ter palpitado de susto e cansaço, diante do desconhecido e de suas promessas. Mas não tão forte como quando no alto da serra, os olhos viram de um lado o mar infinito e de outro os campos verdes, tão extensos como o mar.
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