Um pouco de carinho faz bem
O paulistano está completamente sem paciência. A irritação é parte da rotina, tanto faz sexo, gênero, time de futebol ou religião. Um minuto é uma eternidade. Ninguém pode perder um minuto sob risco de maldições terríveis, lançadas pela bruxa do pé de moleque contra quem tiver paciência, for educado, respeitar a ordem das coisas e dar bom dia para o próximo.
A regra não é essa. A regra é a pressa no comando, mesmo com a certeza de que quem tem pressa come cru. Tanto faz, cru ou cozido, o ritmo do samba é rápido, lembra rock pesado, não a música com gingado e balanço que embala a dança no ritmo dos passos seguindo o ritmo do coração.
Pouca gente sai da frente, menos ainda dá espaço para alguém mais velho, para uma mulher grávida, para o portador de uma deficiência. “Eu cheguei na frente, então o lugar é meu. Tanto faz a placa azul atrás da minha cabeça, eu não vou sair e quero ver quem me tira”.
O trânsito quase parado garante a longa permanência nas ruas, mas se a oportunidade se apresenta, ainda que com risco de um acidente, o fominha joga seu carro, se enfiando onde mal cabe uma bicicleta. E xinga, xinga com vontade, como se a culpa fosse do outro que está parado, esperando pacientemente o caos se mover.
Vendo o que acontece nas ruas, não tem como ficar minimamente otimista. Não vai melhorar, ao contrário, as pessoas ficarão ainda com menos paciência. A irritação vai subir, as discussões ganharão contornos mais agressivos, até um maluco tirar a arma da cintura e sair dando tiros, como se a avenida fosse o O.K. Corral.
Será que não é hora de uma parada e uma reflexão? Será que as coisas não ficariam mais fáceis se houvesse um pouco de carinho na forma de tratar o próximo?
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