A elasticidade dos bairros
[Crônica de 31 de maio de 2006]
Os bairros em São Paulo fazem questão de ser heráldicos. Nobre, com passado e se possível ligação direta com regiões da França ou Itália, para não falar nas cidades litorâneas do Mediterrâneo, um mar pequeno e tão longe de nossas distâncias atlânticas. E aí mudam de nome.
Por exemplo, quando eu era menino morava no Pacaembu, mas num trecho conhecido por Pacaembuzinho. Na mesma época Jardim América era uma área claramente definida, com começo, meio e fim, compreendida entre a Rua Estados Unidos e a Rua Groenlândia, e o Jardim Europa ficava logo abaixo, começando na Groenlândia e seguindo firme até grosso modo, a Faria Lima.
Olhando do Jardim América para o Europa, a direita ficava o Jardim Paulistano e a esquerda o Jardim Paulista. E a região das alamedas, hoje chamada de jardins, não era jardim nenhum, mas era um emaranhado de casinhas geminadas, das quais meu tio Fernando teve o bom senso de comprar algumas, antevendo o futuro.
Hoje, os bairros mudam de nome mais rapidamente ainda. Nesta linha, até pouco tempo a vila Beatriz e a vila Madalena, irmãs em tudo, eram semelhantes na importância, mas de repente a vila Madalena ficou fina e o jeito foi estender seus domínios para o bairro da irmã, incorporando grande parte da Vila Beatriz.
E por aí São Paulo vai. O Butantã hoje se divide em City Butantã, Cidade Universitária e Butantã, engolindo outros bairros que simplesmente sumiram. A Vila Nova Conceição também cresceu, para não falar no Itaim Bibi que não sabe mais, nem vagamente, onde ficava a chácara do Leopoldo que deu nome ao bairro. É a vida, o esnobismo e a vontade ganhar dinheiro mudando a cara da cidade.
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