Os outdoors
[Crônica de 26 de fevereiro de 2001]
Uma das formas mais fáceis de acompanhar as mudanças do mundo é ver a evolução dos outdoors da cidade. Tomando um espaço de mais ou menos 30 anos, a mudança é incrível, começando pelos temas e continuando nos próprios outdoors, muito maiores e muito mais numerosos, boa parte inclusive ilegal.
Há trinta anos os outdoors eram mais comportados, vendiam a imagem do bom moço, então na moda. Já havia anúncio de bancos, mas a grande sensação eram os anúncios de cigarros, um mais bonito do que o outro, uma mais cativante do que o outro, e, para padrões de hoje, um mais politicamente incorreto do que o outro.
Também os eletrodomésticos tinham o bom hábito de mostrar a cara pelos cartazes da cidade. Para não falar no “Pra Frente Brasil” que todo mundo fazia questão de achar o máximo e dar o máximo de espaço.
Depois os cigarros continuaram mantendo sua presença enquanto os bancos aumentavam a sua. Os automóveis também ocupavam bastante área e as lingeries começaram a apresentar modelos cada vez menos vestidos, mais bonitos, em poses sempre mais sexys.
E aí, surgiram os outdoors com estorinha. E os primeiros anúncios de computadores. E veio o surto dos bancos, que tomaram boa parte do espaço da cidade. E o dos cursinhos e das faculdades e das universidades, cada vez mais intensos, até os dias de hoje.
E, de repente, simbolizando a ruptura do milênio, a internet chega aos outdoors, inundando a cidade com promessas maravilhosas de empresas maravilhosas, que valem bilhões de dólares, prometendo para amanhã o prejuízo de hoje.
Hoje, saio de casa com a revista da semana chamando pra internet. Com a internet prometendo a mulher de lingerie, que no outdoor de lingerie promete a mulher sem nada se o homem acreditar no seu charme e tiver internet. Parece que esqueceram o cigarro, que no começo da estória fazia a mesma coisa.
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