A torre da igreja de Pinheiros
[Crônica de 17 de novembro de 2001]
Já escrevi sobre a igreja de Pinheiros, uma das mais antigas de São Paulo, mas que não tem mais nada a ver com a antiga capela da redução de indígenas, próxima da fazenda de Fernão Dias Paes.
A igreja de hoje é feia, cinza e suja, como boa parte da cidade. Até poderia ser uma igreja interessante, mas o jeito como foi rodeada por ruas mais feias e mais sujas do que ela, impede que tenha qualquer realce, ou qualquer atrativo que a destaque de uma forma positiva da paisagem triste do bairro de comércio barato que a cerca por todos os lados.
Se por um lado esse cenário dá pena, por outro, mostra São Paulo como a cidade é. Dura e implacável, em seu caminho para o futuro.
Mas existe um outro jeito de ver a igreja de Pinheiros e eu descobri isso e que além deste, existem vários outros, andando de bicicleta, num domingo sem trânsito.
Cada perspectiva é única, e só do mesmo ponto é possível vê-la como ela surge. Um pouco para um lado, ou um pouco para o outro muda tudo, cria outro cenário, transforma a paisagem.
Eu vinha de bicicleta pela Nova Faria Lima, que perto da Pedroso de Moraes tem uma das poucas ciclovias de São Paulo. Minha ideia era encompridar o passeio, e voltar por trás da igreja da Cruz Torta para entrar pelo Alto de Pinheiros.
Foi aí que eu vi a torre se destacando escura por detrás dos prédios, e naquela perspectiva ela surgiu bonita e imponente, com formas sólidas, como que marcando o espaço, para determinar quem é a verdadeira dona de Pinheiros, instalada lá há mais de 400 anos e em volta de quem surgiu a freguesia.
Da nova Faria Lima é bonito ver a torre da igreja. Ela surge sozinha, longe da sujeira e da pobreza que cercam suas paredes.
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