Nadas em busca dos tudos

Eu não sou poeta. Desisti aos vinte anos. Sou cronista, contista, articulista e autor de meia dúzia de livros. Mas a poesia eu larguei faz muito tempo. Para ser poeta não basta saber as regras ou só ter talento. Precisa mais e este mais é algo que não se aprende nem se compra. Nasce com a pessoa, como nasceu com Paulo Bomfim, Vinícios de Moraes, Manuel Bandeira, Drumond, Castro Alves e mais um punhado de gente que nasceu com o dom.

Mas, se eu não sou poeta, gosto de ler poesia. Invariavelmente, quando não estou lendo poetas consagrados, me decepciono com a obra, escrita com menos talento do que minha poesia dos 18 anos.

Fazer poesia não é rimar amor com dor ou solidão com coração. É muito mais! É criar alimento para a alma, tocar o mais fundo, mexer com o mais secreto e nos dar um prazer único, feito de sensações não explicáveis.

É por isso que quando comecei a ler “Nadas em Busca dos Tudos”, de Henrique de Medeiros Filho, eu nadei de braçada. A poesia do Henrique é poesia das boas. Flui, encanta, hipnotiza e faz pensar, embalado pelo ritmo de seu verso rico, que surge singelo, como que para enganar inglês, mas que, no ritmo da leitura, se impõe denso e consistente.

Henrique é meu amigo. Presidente da Academia de Letras do Mato Grosso do Sul, também é presidente do Fórum Nacional das Academias Estaduais de Letras, do qual eu sou o vice-presidente.

Ele me mandou o livro de presente. Demorei um pouco para começar a ler, mas, quando comecei, não parei. Quase que todos os dias abro o livro aleatoriamente e leio duas ou três poesias. Mesmo não lendo na ordem do autor, elas se completam e dão aquilo que se espera dos versos de qualidade. Dão a sensação de bem-estar e paz consigo mesmo. Dão magia, até quando os versos fluem em tom mais forte. 

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