A árvore cansada
[Crônica de 15 de dezembro de 2009]
Tem gente que acha que as árvores nãos cansam. Que elas aceitam passivamente viverem com as raízes enterradas lhes dando o suporte para ficar em pé, vendo a vida passar, com passarinhos cantando nos galhos e parasitas grudadas no tronco.
Não é assim. As árvores são como nós. Elas também se cansam. Se cansam da estupidez do mundo, da falta de generosidade, da vida atribulada na cidade grande, da maldade humana.
E as árvores envelhecem. Como nós, depois de um certo tempo previsto em seu código de DNA, as árvores ficam velhas, atingem o limite da vida, enfraquecem e morrem.
Eu não sei dizer quando ou com o isso acontece. Mas com certeza não há uma regra exata. Cada árvore é uma árvore e suas condições de vida são diferentes das outras, o que as faz únicas, com ritmo e toada própria.
Que o diga a grande tipuana que depois das chuvas da semana passada, se cansou de ficar eternamente ereta, com os longos galhos estendidos, e decidiu descansar, encostando o tronco enorme no carro do meu sócio Armando Char.
Foi um gesto quase carinhoso. A imensa árvore foi descendo o tronco, lentamente, até encostar na lataria do carro, quando soltou o peso com tudo, convencida que tinha encontrado o apoio perfeito.
O problema é que um carro, por melhor que seja, é só um carro e não foi feito para servir de muleta para as grandes tipuanas cansadas da vida.
O resultado foi o carro, lentamente, ir amassando sufocado pelo peso enorme jogado sobre ele, até se transformar em sucata.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.