Democracia é outra coisa
Ele é de direita, é de esquerda, é burro porque é de direita, é imbecil porque é de esquerda… Isso para ficar no palavreado leve. De verdade, nos botequins da vida, é da mãe pra baixo. Se não se pensa da mesma maneira, quem pensa diferente é um ser desprezível, amoral, sem caráter, ladrão e outros adjetivos emocionantes que no passado integravam o ranking de sucesso do brasileiro, criado pelo Ministro Delfim Neto.
A intolerância é absurda e o curioso é que todos se dizem democratas, que lutam pela democracia, que é preciso preservar a democracia e por aí a fora. Só que democracia é exatamente o oposto.
Democracia é tolerância, respeito à opinião alheia, compromisso e a busca pelo consenso. Ninguém é melhor ou pior, ninguém se impõe na marra. Na democracia se conversa, se negocia, se acerta, se troca – um precisa uma ponte; outro, um túnel; um apoia o outro e os dois saem satisfeitos ou, numa negociação mais complexa, um cede um pouco aqui, outro abre mão de pontos não essenciais ali e a coisa avança, se chega a um consenso que pode ser votado e implementado com ganhos reais para todos.
Mas, mais importante do que tudo, democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. É a busca da felicidade a que todo ser humano tem direito. É a vida em condições dignas, não como se vê hoje, no Brasil e no mundo, incluídos os países mais ricos, onde a degradação humana atinge pontos inimagináveis e a miséria é o retrato duro de uma realidade completamente distorcida.
Política nunca foi um jogo limpo ou leve. Em política vale tudo, só é feio perder na próxima eleição. Mas sempre houve um mínimo de empenho em melhorar a vida do próximo, dar saúde, educação, assistência social, segurança pública… Hoje, isso é bobagem. O negócio é encher os bolsos.
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