Nossa Senhora Achiropita

Crônica de 12 de abril de 2000

Nossa Senhora Achiropita é uma das igrejas mais alegres de São Paulo. Localizada na rua 13 de maio, bem no coração do Bixiga, ela representa a alma da enorme colônia italiana, que há mais ou menos 150 anos começou a vir para o Brasil, para construir um país novo, deixando a miséria, a fome e a doença nas margens do Mediterrâneo, numa Europa muito velha e muito mais injusta do que o Brasil atual.

Homenageadas todos os anos com uma das festas de rua mais bonitas que existem, a igreja e sua padroeira participam ativamente das comemorações que fazem do Bixiga o porta voz da cidade, pedindo as bençãos da mãe de Deus de uma forma alegre, sem lágrimas e sem choro, mas com o riso deixando mais leve a cara e mais franco o olhar.

E Nossa Senhora Achiropita, padroeira de gente alegre, sorri e recebe os pedidos e as homenagens de peito aberto, porque ela sabe – porque é mãe – que seu filho não pregou uma religião de dor e sofrimento, nem prometeu o céu para quem vivesse em penitência.

Não, a religião do Cristo fala de amor, de dar e receber, de estender a mão e auxiliar o próximo.

Ela já falava de igualdade, fraternidade e liberdade, 2000 anos antes da Revolução Francesa. Ela prometia o reino dos céus aos fracos e oprimidos, para que lá eles fossem iguais aos ricos e aos poderosos e todos vivessem juntos e felizes, à sombra de Deus.

Nossa Senhora Achiropita sabe de todas estas coisas, como sabe que seu filho morreu na cruz para dar ao homem a chance de se redimir e viver em paz consigo e com os seus.

É por isso que ela mora numa casa alegre, no meio de um bairro alegre, cercado de gente alegre, que vai às cantinas do Bixiga, que vai aos teatros do Bixiga, que vai atrás da vida do Bixiga, como quem procura ar para respirar

fundo, para encher-se de vida e da alegria da vida, e reencontrar forças para tocar em frente, com a benção e protegido pelo sorriso de Nossa Senhora Achiropita

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