O maestro das vaidades
[Crônica de 16 de agosto de 2001]
Um restaurante da moda é uma representação em escala da aventura da vida. Em seu salão e em suas mesas os mesmos dramas, as mesmas alegrias, as mesmas derrotas e as mesmas conquistas, guardadas as proporções, se desenrolam, mais ricos e mais dramáticos do que em qualquer novela.
Poucos lugares mostram a alma humana como um restaurante da moda. A grandeza, a mesquinhez, a ostentação, a gula, o egoísmo e a vaidade dividem espaço com uma série de sentimentos bons, que, justamente por serem bons, são quase que só percebidos por uma sensibilidade mais acurada, normalmente a dos garçons que atendem os clientes.
Eu já contei como meu amigo Juscelino administra o show impressionante que acontece a cada dia num destes restaurantes. Acontece, não se repete. Essa distinção é importante para mostrar a riqueza dos temas e imensa criatividade e a maior ainda imprevisibilidade humana.
Observar o Juscelino e seus colegas coordenarem o balé das vaidades é uma aula de psicologia aplicada, quem sabe muito mais útil do que qualquer palestra teórica sobre o tema “relacionamento humano”.
Começando pelo sorriso aberto com que ele recebe seus clientes logo na porta do restaurante, a forma como ele aperta a mão e a sensação de que ele passa, de que aquele cliente é a razão de ser da casa, tudo é feito para fluir de forma azeitada, mesmo com as mesas lotadas e aquele cliente não seno o mais importante, nem o que vai ser atendido primeiro.
Nunca vi o Juscelino perder seu sorriso. Com certeza em algum momento ele deve dar um bufo, mas bufa discretamente, sem ninguém perceber e sem atrapalhar o show, porque o importante é a casa faturar, fingindo que anda devagar, no ritmo dos clientes, mas liberando as mesas na velocidade que o Juscelino precisa.
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