O verão no inverno
[Crônica de 22 de agosto de 2005]
A última semana fez quase tanto calor como nos dias do final do verão, e nós estamos em pleno inverno. Algo estranho no tempo? Não. Em São Paulo isso sempre aconteceu e nos últimos anos, sem base científica para afirmar, tenho a impressão de que os invernos estão ficando cada vez menos rigorosos, com menos dias frios e mais dias gostosos, como se Deus tivesse pena de quem mora nesta fábrica de loucos, ameaçados o dia inteiro por toda uma série de eventos naturais e humanos, capazes de tirar a lucidez de quem quer seja, pela frequência e pela violência.
Só para embasar o que eu estou dizendo, me lembro do inverno de 1972, quando fui para Itu, fazer meu estágio de CPOR. Andei de camiseta a maior parte dos dias, enquanto desempenhava minhas tarefas dentro do quartel e depois nas noites gostosas da cidade.
E quantas férias de julho foram tão amenas que dava para ir para piscina da fazenda e nadar, como se fosse verão? São Paulo sempre teve um tempo louco. Tão louco que também me lembro de um inverno, há muitos anos, quando na região de Araçatuba, que é das mais quentes do estado, vi a água congelar dentro dos canos das torneiras, nas casas da fazenda onde eu estava.
Fazer calor no inverno, aqui, é normal, como é normal fazer frio em dezembro, em pleno verão. Quem puxar pela memória vai ver que é raro o ano que alguns dias antes do Natal não tenha uma semana fria, quase tão fria quanto as poucas semanas frias do inverno.
Pelo que dizem, sempre foi assim. O que mudou e parece que para melhor, é que não temos mais a garoa que já foi tradicional, nem o vento encanado que matava os aposentados nos contos de meu tio Alfredo Mesquita. Graças a Deus, hoje, é só frio e calor, ainda que fora de hora.
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