Os três na noite
A noite veio chegando. Clara, iluminada pela cidade, mas prometendo a lua cheia que em alguns instantes começaria sua jornada, subindo no céu. Céu azul profundo, céu de mistérios e encantamentos que só a lua cheia numa determinada época do ano é capaz de prometer e entregar, até numa cidade como São Paulo, onde a iluminação apaga a maior parte das estelas.
A simples promessa da lua já trazia a poesia que a espera garante. Disse um poeta que os passos fazem o caminho. A lua subir no céu tem mistério e tem caminho, o resto é o sonho que se espalha pela cidade e viaja em ondas de luz que descem da lua para dançar com as lâmpadas.
A noite tem mistérios, assim como dia tem mistérios, são os mistérios do mundo que dão graça e assustam a vida. O fim do dia tem a luminosidade mágica do encontro do que foi com o que ainda não é.
A lua prometia subir aos céus. Foi aí que um ipê branco floriu. Carregado, denso com as flores aumentado seu tamanho, como a sombra do gato refletindo na parede a imagem do tigre.
E um ipê amarelo também floriu, não sei se para fazer um dueto com o ipê branco, ou competindo pelo espaço e pelo encantamento da noite.
Do outro lado do muro, na calçada, os dois ipês somavam suas flores para aumentar a poesia da lua, para criar um nova mágica, na soma da lua saindo de trás do horizonte para colorir com sua intensa palidez a possibilidade dos dois ipês somarem suas flores para dar a noite a possibilidade de todas as possibilidades.
Ah, a conjunção da lua, do ipê branco e do ipê amarelo, cada um com sua vaidade e seu egoísmo, cada um com seu verso e sua poesia, criando uma ode a vida que fluía no ar calmo da noite prometendo todas as promessas, mas entregando o sonho.
Ah, a naturalidade das noites mágicas e dos momentos felizes!
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