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Meu amigo, o poeta

[Crônica de 8 de abril de 1998]

Rodrigo Leal Rodrigues nasceu em Portugal e cresceu em Lisboa, na Graça, vendo o castelo de São Jorge a esquerda e a vista deslumbrante do telhado do casario antigo da cidade, encosta abaixo, até o Tejo, que se abre largo bem diante dos olhos, chamando os portugueses para a aventura das águas.

Foi ali, entre as ruas estreitas e a vista larga que o menino se fez homem e o poeta Marcos Leal desabrochou como uma flor de primavera, para cavaleiro da Távola Redonda, se entregar de corpo e alma aos versos que mudaram a poesia portuguesa, numa continuação lógica do caminho aberto por Pessoa, em busca do graal da perdida glória lusitana, espalhada pelo mundo, misturada em todos os sangues, batendo em todos os peitos, mas ausente da pátria e esquecida pelo povo.

Rodrigo Leal Rodrigues é madeira das florestas de el rei. Tronco mestre de quilha de nau e pano de mastro de caravela, que com o Diogo cão desceu pela costa d’África e com Bartolomeu Dias dobrou o cabo que  serviu de rumo ao almirante Gama, na sua jornada de sonhos e sacrifícios para tornar as índias feudo de Portugal.

Mas Rodrigo é mais. É o fruto do alumbramento de ver uma camponesa no alto de uma escada catando frutos, com seus segredos descobertos, num pomar da serra.

E é a recompensa de uma caçada de elefantes, em companhia do pai, pelas savanas africanas, que teve como prêmio para as dores do corpo o bálsamo de outro corpo dividindo com ele a essência da vida.

E é a luta por tudo de bom que ele preza e respeita e, pelo que – fora de moda – ele pensa que vale a pena lutar.

Rodrigo Leal Rodrigues, o poeta Marcos Leal, é a encarnação da poesia em cada gesto e na sua maneira de ver a vida – ou de viver a vida, que para ele se estende numa longa estrada onde a coisa mais importante, a fonte mais doce, são os amigos, com quem reparte seus momentos bons, para encontrar as forças que ele arranca das entranhas da terra e que lhe servem de escudo, para si e para os seus sonhos, nos momentos em que a vida pega pesado.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.