Feminicídio
Pouca coisa é mais covarde do que o feminicídio. O assassinato da mulher por ser mulher, normalmente companheira ou ex-companheira do assassino. E o crime se dá de forma brutal, estúpida, para mostrar que quem manda é ele, tanto faz o que ela queira ou pense.
Para o assassino, a mulher é um objeto. Seja sua mulher ou companheira, seja sua filha, na cabeça dele, ele pode dispor dela da forma que quiser, para o bem ou para o mal. Inclusive impedir que ela disponha da própria vontade. Na vontade dela quem manda é ele, a vontade dela é a vontade dele.
O mais apavorante é que os crimes invariavelmente são cometidos de forma covarde, a traição, sem dar chance de defesa para a vítima. Ela é pega desprevenida e sem a menor condição de resposta. É morta pelas costas, a tiro, atropelada, sempre sem ter uma oportunidade de reação. O assassino não mata olhando nos olhos da vítima, não, ele tem medo desse olhar. Ele é um covarde.
As estatísticas mostram o aumento impressionante do número de feminicídios no Brasil. De poucas dezenas por ano para várias centenas. Será que essa leitura é a correta? Será que é isso mesmo que está acontecendo?
Confesso que tenho dúvidas. O feminicídio sempre existiu, mas não era contabilizado como um crime específico. Pior ainda, nem sempre era crime. A legítima defesa da honra protegeu os assassinos por décadas. Para parte da população era mais que aceitável, era lógico, que em nome da honra ferida, o homem matasse a mulher.
Além disso, não se analisava a razão do crime. E as queixas de assédio não faziam parte das ocorrências. Com o tempo, o que mudou foi o olhar da sociedade. Graças a Deus ele mudou.
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