Hora da onça beber água
Não é figurado, é verdade. As onças estão bebendo água em cima de seres humanos que se aventuram pelo Pantanal e outras regiões, sem perceber que é o que as onças querem.
Alguns anos atrás, num jantar depois de uma palestra que eu fui fazer em Cuiabá, fiquei conversando com um médico legista e ele me disse que já tinham acontecido quatro ou cinco casos de ataque de onça contra pessoas que acampavam numa praia do Pantanal. Ele estava convencido de que era a mesma onça, porque os ataques eram iguais: a fera mordia a cabeça da pessoa por trás, enquanto ela dormia dentro da barraca.
Minha irmã morava num sítio em Amparo, cortado pelo Rio Camanducaia. Um lugar lindo, com uma mata fechada e uma longa alameda ladeada por flamboyants plantados pelo meu avô.
Uma tarde ela estava caminhando pela alameda, acompanhada por quatro ou cinco cachorros, quando viu algo comprido e flexível balançando de um galho de uma das árvores. Achou estranho e, quando se aproximou para enxergar melhor, viu que era a cauda de uma onça parda deitada no galho. Diz ela que sentiu o corpo gelar, parou, chamou baixinho os cães e começou a andar de ré, sem tirar os olhos do bicho, se afastando lentamente em direção de sua casa.
Sei de outros casos na região da Grande São Paulo e tem sido comum onças serem atropeladas nas rodovias que cortam o Estado.
Na base destes acontecimentos estão dois fatos perigosos para o ser humano. O primeiro é que a recomposição das matas e a proibição da caça aumentou o número de onças. O segundo é que a memória da espécie associava o ser humano ao som do tiro que as matava. Sem armas, o ser humano não atira mais. Portanto não tem barulho e as onças não morrem. O resultado é que as onças perderam o medo e passaram a atacar.