Loteria a céu aberto
As placas com os nomes das ruas de São Paulo são uma loteria tão complicada quanto a Mega-sena de fim de ano. A falta de critério é tão impressionante que pode-se dizer que o critério para a grafia dos nomes nas placas é a aleatoriedade.
João Manuel Castanheira vira João Castanheira, da mesma forma que poderia ser João Manuel ou simplesmente Castanheira, com a falta de cerimônia que o desconhecimento da ordem dos nomes em português permite ao encarregado de definir a grafia nas placas escrever o que quiser.
Nada que no passado não tenha acontecido. Afinal, quem foi dona Angélica ou dona Augusta? Mas tirando esses e outros casos isolados, a maioria das placas tinha o nome completo e alguns até um complemento, como a placa da rua Gabriel Monteiro da Silva, que tinha, embaixo do nome, sua qualificação: ”Democrata”.
Cada um dança como pode. A rua Almirante Pereira Guimarães virou Almirante Pereira e a Zequinha de Abreu é rua Zequinha, numa homenagem indireta à minha mulher.
O problema fica mais sério quando o viaduto Condessa de São Joaquim se transforma em viaduto São Joaquim, confundindo motoristas, entregadores e até o correio.
Aliás, o correio é um capítulo à parte. Se as placas das ruas de São Paulo não respeitam o passado, os Correios decidiram voltar no tempo e estão tão ineficientes como eram até os anos 1970. Receber ou não receber sua correspondência ou encomenda é uma loteria tão complexa quanto a grafia dos nomes das ruas.
Por isso, não imagine que, se seu nome for dado a uma rua, a homenagem fará você ser lembrado. As chances de grafarem errado são enormes. Por isso, seja humilde e deixe aos mortos lembrarem os mortos.