Embaixo do Minhocão
Já foi Costa e Silva, agora é Jango Goulart. Nenhum dos dois merece a honra de dar o nome para o Minhocão, mas o nome do general era melhor, se não for por nada, porque sempre foi o nome do elevado e uma cidade não perde seus referenciais por causa de política com letra minúscula.
Não cabe aqui discutir quem foi ou o que não fez Jango Goulart. Como não cabe discutir o que fez mal feito o general Costa e Silva.
O tema é a vida embaixo do Minhocão. Minhocão que se estende da Praça Roosevelt até a Avenida Pacaembu e que, neste longo trecho, é sujo e feio, embaixo e em cima.
Mas o monstrengo resolveu o trânsito da cidade por muitos anos, ainda que degradando toda uma região que, antes da sua construção, tinha prédios finos e apartamentos de luxo.
Eu sou dos que começaram a sonhar um parque em cima dele. A matéria é controversa, mas imagine um longo corredor verde unindo a Praça da República ao Parque Fernando Costa.
Do centro à Água Branca, um gramado com árvores e flores e uma enorme área de lazer. Sonhar não custa nada, ainda mais quando o sonho pode virar realidade.
Hoje, o Minhocão serve para ajudar o trânsito e serve de abrigo para muita gente que não tem outra alternativa senão se estender em cima de papelões velhos, se cobrir com cobertores rasgados e aguentar o frio das noites de inverno de São Paulo, mal e mal protegidos pela estrutura dura e cinza do viaduto mal cuidado.
Por que essas pessoas estão lá? Cada história é uma história, mas todas têm em comum a solidão, o abandono, a fuga da vida em sociedade.
Cada um tem sua razão, seu motivo. O fato concreto é que tem gente que mora embaixo do Minhocão com tudo de brutal que isso representa.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.