As histórias de amor
As grandes histórias de amor têm, invariavelmente, um final trágico. Uma das mais antigas é a Ilíada. Por causa da promessa de uma deusa, dois mortais se apaixonam e, depois de uma guerra de dez anos, a cidade de Tróia é destruída. Curiosamente, Helena, que, ao fugir com Páris, dá causa à guerra, no final volta para os braços do primeiro marido e os dois retornam a Esparta, onde seguem reinando até serem esquecidos.
Abelardo e Heloísa não é romance, nem poesia, é história de verdade. Brilhante filósofo, o pensador mais importante da Universidade de Paris, se apaixona por Heloísa e os dois vivem uma história proibida de amor e beleza. Abelardo é religioso. O romance é revelado e o final trágico eu deixo para vocês descobrirem.
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Romeu e Julieta tem tantas versões que só falta uma releitura da história com a fuga dos dois para algum paraíso à beira mar, onde viveram felizes para sempre. Em vez disso, o drama é a morte dos amantes dentro do túmulo. Romeu não sabe que Julieta não morreu, que seu enterro é um plano para que possam fugir e viver sua história. Romeu e Julieta, além da tragédia em si, traz a brevidade da possibilidade de se ser feliz.
As verdadeiras histórias de amor não têm história. A comunhão não tem drama, não tem hesitações, não tem dúvidas. Ou se é feliz ou não se é. Não existe meia felicidade, assim como não existe felicidade perene.
A felicidade é um átimo de transcendência, de iluminação, de interação com a eternidade do cosmos, com o começo de tudo, com a divindade. A felicidade não tem tempo, não tem começo, nem fim.
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A felicidade é uma dádiva que os deuses distribuem com parcimônia. E o que é felicidade para você não é necessariamente felicidade para mim.
Por isso os grandes amores não têm história: eles são vividos, não são narrados. Neles a felicidade acontece porque é construída.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.