Irresponsabilidade
As taxas de acidentes com vítimas fatais vinham decrescendo nas estradas federais. Ainda estávamos longe de números descentes, mas o cenário mostrava um quadro positivo, com o número de mortes diminuindo, não numa velocidade impressionante, mas diminuindo, o que, com quarenta mil mortes por ano, é sempre bom.
Aí veio a bomba. Por ordem do Presidente da República, os radares móveis foram retirados das rodovias federais. Perto de oitenta por cento da malha ficou sem fiscalização de velocidade, a principal causa de acidentes do país.
A maioria dos acidentes nas rodovias federais acontece por excesso de velocidade. O motorista perde a direção e, como acontece com enorme frequência, se tiver ingerido bebida alcoólica, o quadro se agrava pela falta de reflexos para retomar o controle do veículo.
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Ao mandar retirar os radares, o Presidente liberou os motoristas para meterem o pé no acelerador, certos da impunidade porque não seriam mais flagrados pelos radares.
Foi o que aconteceu. Proibida de fiscalizar se valendo dos modernos meios de identificação das infrações, a Polícia Rodoviária Federal, que sempre foi contrária à medida adotada pelo Governo Federal, ficou de mãos atadas, vendo a carnificina recrudescer e o número de mortes e feridos voltar a aumentar rapidamente.
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Com boa parte das estradas com manutenção precária e pistas únicas só faltava liberar a velocidade para buscar de volta os índices apavorantes, que vinham caindo em função de muito esforço, mas principalmente pela adoção dos radares móveis para fiscalizar a velocidade nas rodovias. Planejado para dar errado, deu errado. O que todo mundo sabia que aconteceria, aconteceu.
Temos de novo mais mortos nas estradas.
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