Certos dias cinzas
Tem certos dias que são diferentes. Não que existam dois dias iguais, mas alguns são mais diferentes do que os outros.
Não quer dizer que sejam piores, nem melhores. Simplesmente, por uma razão ou outra, são diferentes, na própria essência, no âmago. E a diferença pode ser física, pode ser sensorial ou tátil.
A forma de se pegar no dia o faz diferente dos outros. O faz único, com promessas de paraíso, sonhos de Eldorados, e serras de Sabarabuçu.
Alguns azuis são tão azuis que a transparência do céu fica mais profunda.
Outros são tão densos, que quando o vento chega, explodindo em rajadas incontroláveis, traz ao mesmo tempo uma enorme sensação de liberdade.
Mas alguns dias vão além. Transcendem a ordem cósmica cotidiana e criam universos, ou melhor, trazem universos paralelos para o dia a dia da cidade.
Cores, brilhos, tempestades, céu de brigadeiro, lua cheia, tudo perde a importância porque, de repente, um dia nasceu diferente.
Em São Paulo, esses dias acontecem com razoável regularidade. Se espelham ao longo do ano como uma teia unindo sentidos que escapam aos nossos sentidos.
São dias de um cinza tão cinza que até o cinza sujo do horizonte paulistano fica com medo. Ou vergonha.
Quando este cinza desce todos os tons perdem a realidade. A consistência das coisas se deforma. O mundo fica triste. E a tristeza se espalha dentro do peito dos homens, inexorável. Como se fosse eterna.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.