O céu mais limpo
A pandemia corre solta pelo território brasileiro. Não há o que fazer. O vírus tem seu ciclo de vida e, enquanto tiver forças, irá fazer seu papel de peste, entre os cavaleiros do apocalipse.
A guerra, a fome, a peste e a morte. Desde a Segunda Guerra Mundial o Brasil não sabe o que é guerra. Nem mesmo revolução. 1964 aconteceu sem combates, com as forças armadas e o povo de braços dados nas ruas, e a redemocratização veio em forma de lei, com regras claramente definidas e devidamente cumpridas.
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Fome é outra conversa. Milhões de brasileiros, se não passam fome, estão na linha cinza, muito próximos dela, o que é uma vergonha e explica muito da culpa atávica de boa parte da classe média nacional.
A morte é real na rotina de nossas vidas, nos mais de trezentos mil mortos por doenças cardíacas, nos portadores de câncer, na falta de assistência à mulher e à infância, na falta de saneamento básico e atendimento à saúde dos mais necessitados.
Rotina manchada de vermelho pelos sessenta mil homicídios, quarenta mil mortes no trânsito e milhares de acidentes do trabalho.
Agora veio a nova peste. Nada que não tenhamos diariamente, mas as outras, a dengue, o sarampo, a malária, a chicungunha, a febre amarela e a hanseníase, fazem parte de nossas rotinas e não chamam a atenção.
O coronavírus veio mudar a vida, criar regras novas, assustar e matar. Afinal, não somos melhores do que os outros povos.
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Mas se ele tem o lado trágico, tem também um lado no mínimo didático. Com o isolamento social, a qualidade de nosso ar melhorou e melhorou rapidamente. O céu está mais azul, mais profundo e as pessoas respiram melhor.
Quer dizer, se o ser humano quiser, depois da pandemia, dá para mudar e viver melhor.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.