A saída do segundo ministro
Quando o Dr. Nelson Teich aceitou o Ministério da Saúde, confesso que fiquei mal impressionado. Por que um médico com uma carreira de sucesso como pesquisador e empresário iria aceitar ser Ministro da Saúde de um Presidente que insiste em negar a ciência?
A resposta passava pelo voo da mosca azul e da força da vaidade humana para destruir o bom e o belo feito ao longo da vida pela pessoa picada. O novo Ministro tinha sido picado pela mosca azul e, em troca do cargo, iria referendar cientificamente todas as exigências do grande líder.
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Só que não foi assim. Não foi assim a partir do segundo dia no cargo. Depois de um discurso de posse lamentável, o Ministro não aceitou ser o boneco que o Presidente queria e colocou sua posição na mesa, exigindo respeito à ciência e o diálogo com governadores e prefeitos que, na linha de frente, estavam conseguindo segurar o avanço da pandemia.
Foi aí que começou a fritura do Ministro. Imediatamente, o Presidente, com a sutileza que o caracteriza, começou a escantear o Dr. Teich. O jogo foi tão bruto que ele foi pego de surpresa, quando numa entrevista os jornalistas lhe contaram que o Presidente havia incluído salão de beleza, academia de ginástica e barbearia entre as atividades essenciais.
A cara do Ministro nas telas de televisão não deixou dúvidas: ele não sabia e não gostou de saber que não sabia. Mas continuou quieto, na mesma toada que vinha desde a sua posse.
E continuou intransigente na sua posição de não aceitar qualquer tipo de afrouxamento das medidas de isolamento enquanto nossos números estivessem crescendo.
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E o grande líder deu o golpe final: informou que exigira que o Ministro alterasse o protocolo de uso da cloroquina. O Dr. Nelson Teich, com dignidade rara neste governo, agradeceu, deu tchau e foi para casa.
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