Nem sempre é correto
Nem sempre o que parece politicamente correto é ao menos correto. Andar de bicicleta é saudável, não polui o meio ambiente e ajuda a descongestionar o trânsito, para ficar no básico e não falar do imenso prazer que uma bicicleta pode oferecer.
Então pedalar é politicamente correto. Mas, nem sempre. Se o ciclista decide pedalar na Marginal do Pinheiros ele está longe de ser politicamente correto, para não dizer inteligente. Cada coisa é uma coisa, e as marginais não foram feitas para alguém se achar no direito de entrar nelas, ocupar uma das pistas e sair feito o Mágico de Oz, pedalando feliz e contente, até um caminhão passar por cima dele.
Porque quem pedala na Marginal, ou em qualquer outra avenida por onde flui o trânsito pesado da cidade é um alucinado.
Alguém que nem a pior bicicleta do mundo merece ter, ainda que por castigo ou por praga rogada.
Eu queria saber o que passa na cabeça de um cidadão para montar numa bicicleta e entrar na Marginal.
Em princípio, diria que é um suicida disposto, além de morrer, a arrumar dor de cabeça para quem não tem nada com isso.
Porque sendo atropelado, instaura-se um inquérito para apurar os fatos e, nele, normalmente, o ciclista aparece como vítima, enquanto o motorista é o acusado, contra quem pesa a possibilidade da culpa.
O pior é que dentro da distorção sistêmica que tomou conta das autoridades brasileiras, não há nada a fazer, exceto rezar para não ser você quem vai atropelar o suicida potencial.
Num país aonde a polícia é impedida de ser polícia, pedalar nas marginais faz todo o sentido e aí de quem reclamar.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.