Quando o computador para
Até alguns anos atrás o mundo era feliz e não sabia. As secretárias usavam máquinas de escrever altamente sofisticadas, com esferas e margaridas que trocavam os tipos de letra. O mundo se comunicava por telex. E telefone era uma máquina preta que alguns fabricantes tentavam deixar mais modernos, mudando de cor ou de forma.
Máquina de calcular era manual e você tinha várias alavancas que empurrava para cima e para baixo para fazer uma conta mais complexa. Os acompanhamentos eram manuais, feitos em fichas que você achava nos arquivos e que não sumiam sem deixar rastros.
Gerente de banco era alguém palpável, com cara, riso e voz, que podia até não ser simpático, mas pelo menos dizia não baseado num conhecimento pessoal e em instruções assinadas por um diretor que era responsável pela área, a quem os clientes podiam recorrer quando a vaca ameaçava ir para o brejo.
Curiosamente, tudo funcionava mais ou menos azeitado e no fim do dia e nos finais de semana, as pessoas iam para casa, em vez de ficar no trabalho, feito escravos condenados à morte.
Pasme. Os estagiários tinham férias e era comum trabalharem meio período. É verdade que não ganhavam muito bem, mas não me parece que hoje o quadro tenha mudado muito.
O mais fantástico é que as coisas davam certo. As pessoas faziam negócios e o mundo melhorava, ainda que sujeito a crises e tempestades.
Teoricamente, o mundo moderno deveria dar mais tempo e qualidade de vida a todos nós. Afinal a informática e o avanço nas comunicações vieram para salvar a pátria. Só que na prática não é bem assim. Cada dia mais, temos menos tempo. Ou melhor, menos tudo.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.