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Quando o computador para

Até alguns anos atrás o mundo era feliz e não sabia. As secretárias usavam máquinas de escrever altamente sofisticadas, com esferas e margaridas que trocavam os tipos de letra. O mundo se comunicava por telex. E telefone era uma máquina preta que alguns fabricantes tentavam deixar mais modernos, mudando de cor ou de forma.

Máquina de calcular era manual e você tinha várias alavancas que empurrava para cima e para baixo para fazer uma conta mais complexa. Os acompanhamentos eram manuais, feitos em fichas que você achava nos arquivos e que não sumiam sem deixar rastros.

Gerente de banco era alguém palpável, com cara, riso e voz, que podia até não ser simpático, mas pelo menos dizia não baseado num conhecimento pessoal e em instruções assinadas por um diretor que era responsável pela área, a quem os clientes podiam recorrer quando a vaca ameaçava ir para o brejo.

Curiosamente, tudo funcionava mais ou menos azeitado e no fim do dia e nos finais de semana, as pessoas iam para casa, em vez de ficar no trabalho, feito escravos condenados à morte.

Pasme. Os estagiários tinham férias e era comum trabalharem meio período. É verdade que não ganhavam muito bem, mas não me parece que hoje o quadro tenha mudado muito.

O mais fantástico é que as coisas davam certo. As pessoas faziam negócios e o mundo melhorava, ainda que sujeito a crises e tempestades.

Teoricamente, o mundo moderno deveria dar mais tempo e qualidade de vida a todos nós. Afinal a informática e o avanço nas comunicações vieram para salvar a pátria. Só que na prática não é bem assim. Cada dia mais, temos menos tempo. Ou melhor, menos tudo.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.