As flores, sempre as flores
As notícias ruins como sempre tomam de assalto os microfones das rádios. Ao mesmo tempo, os buracos tomam de assalto as ruas. E os assaltantes, também como sempre, fazem a festa nas esquinas da cidade.
A nós restaria chorar ou entregar a alma a Deus porque o corpo, este já está condenado ao inferno, como contraponto pela graça de vivermos aqui.
São Paulo é cinza, dura e cruel. Todo mundo sabe, ou pelo menos quem habita aqui e compartilha a cidade.
O resultado é o medo como carro chefe das ações ou omissões que fazem as pessoas fugirem das pessoas.
Repare. Ajudar que é bom, pouca gente ajuda. Mas parar para ver o sangue da vítima de um acidente está tão entranhado nos hábitos das pessoas que até o trânsito da outra pista para, hipnotizado pela queda do motoqueiro.
Entre num elevador e diga bom dia. Preste atenção na reação das pessoas. A maioria não responde e os que respondem o fazem encabulados, como se fosse feio desejar bom dia.
É por isso que as flores desempenham um papel de suma importância para a manutenção da sanidade mental da população.
Graças a elas, graças às floradas deslumbrantes que enfeitam São Paulo pelo ano inteiro, nem todos ficam loucos, ou se entregam ao desespero.
Por conta das floradas é possível permanecer relativamente calmo dentro de um automóvel parado no congestionamento. Elas distraem a atenção, trazem pensamentos bons, enganam a demora sem solução. As flores são como as poções mágicas e a mágica evita a explosão.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.